Morei por longos e tediosos 18 anos em BH .Quando completei meus dezenove anos, dei tchau para minha família chata, juntei minhas tralhas e fui morar com minha irmã em Copacabana.
Larissa saiu de casa depois de engravidar com dezesseis anos. Sempre foi irresponsável, e é até hoje. Incapaz de impor limites no seu próprio filho. Marcelo, tinha quinze anos, chegava em casa no meio na madrugada, quase todos os dias, e não posso deixar de falar que aquilo me irritava bastante. Não entendia Larissa, parecia que contava os dias para Marcelo acabar engravidando sua namorada, que já tinha quase dezoito anos. Ele não era nem um pouco bobo, escolheu logo a mais, digamos, gostosa. Larissa parecia ingênua em certas horas, achava o que? Que eles ficavam jogando dominó ou dama?
Certo dia, acabei conhecendo o irmão de Caroline, namorada do Marcelo. Meu Deus. Pouco tempo em Copacabana e já percebi que lá tinha muito cara bonito. Mas aquele, era de mais. Olhos verdes, que me fizeram marejar de tanto olhar no fundo deles, aparentemente malhado, jeito de surfista, mas muito, muito gato. Ele me olhou de um jeito, que por um instante até me senti meio sensual. Mesmo não sendo, e sabendo isso.
Cheguei da faculdade, já era quase uma da tarde. Enquanto procurava na minha bolsa as chaves escutei o elevador abrindo novamente. Ouvi uma voz, gostosa, que já tinha escutado antes, mas não reconheci de imediato. “E aí, paulistinha? Vamo saí hoje?”. Expliquei com vontade de gargalhar e também bater na cara dele, que eu era mineira. No dia que conheci ele falei umas quinze vezes de onde eu era, e ele continuava achando que eu sou paulista?
Sinceramente não estava com vontade de sair com ele. “Tenho que terminar um trabalho da faculdade!”. Não foi o bastante para ele, que insistiu mais uma e outras vezes. Depois de uma, quase, lavagem cerebral aceitei. E já bateu um arrependimento na hora. Não conseguia gostar de conversar com pessoas que falassem muitas gírias, ou falassem errado. E ele fazia tudo que me irritava de sobra.
“Vamo aproveitá que ta mou calor!”. Dei uma risadinha, mas só para não ficar chato. “Passo aqui as sete. Vai gatona que eu vô te apresentá pros brother!”. Ele ia me apresentar por quê? Já quer me apresentar? Como assim? Ta achando o que, gatinho? Não tenho nada com você, não! E nossa, pelo menos ele sabe, ao menos, uma palavra em inglês!
Arrumei-me. Coloquei meu sapato de salto mais lindo. Estava linda, de verdade. Não sabia aonde ele ia me levar, mas tudo bem. Sentei no sofá para esperar. Sete horas passou, sete e meia também. Oito, quase em ponto ele tocou a campainha. Ele sabia como me irritar. “Nossa, se atrasou, né?”. Minha pergunta foi meio inconveniente, mas definitivamente, ele merecia. Ele disse com um pouco de vergonha. “Desculpa aí, achei que dezenove horas, eram seis da tarde, quando lembrei que era sete, já era oito. Vim correndo.”.
E a vontade de gargalhar e bater a porta na cara dele, aonde é que fica? Achei que era brincadeira, mas ele estava falando sério. Definitivamente, a expressão que diz que beleza e inteligência não combinam foi feita especialmente para ele. Poxa, queria alguém inteligente, ou de preferência com cérebro. Fomos para o carro, e ele até abriu a porta para mim. Pelo menos uma atitude boa. Uma música dos infernos começou a tocar mais conhecida, popularmente, como funk. Pelo amor!
Logo chegamos a uma “quebrada”. E aí sim não aguentei. Falei um monte, o que ele merecia. Eu realmente não tinha colocado meu salto, e nem minha calcinha mais bonita para ir á uma quebrada. Depois de tudo que terminei de falar ele ainda teve a cara de pau de falar “Mas calma, ainda ia te levar no baile!”.
Virei às costas, tirei meus sapatos do pé, segurei-os na mão e saí andando. Entrei em um PUB, no qual o som me agradava. Pedi uma dose de whisky, não que seja o mais correto. Sentei em uma cadeira, fiquei olhando o baterista lindo da banda. Isso sim era homem. Eu só queria um cara igual a ele. Eu até merecia, vai! Só quero alguém igual a mim, que curta rock, fale direito, e tenha um vocabulário inglês mais amplo.
Olhei nos olhos do baterista. Ele sorriu. Olha! Mas não é que valeu a pena ter colocado o salto.
Por Bia Bim